quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quem pode ser chamado de cristão?

Gosto muito do que C.S Lewis diz acerca dessa questão em seu livro " Cristianismo puro e simples":

" (...) Ora, se permitirmos que as pessoas comecem a espiritualizar e refinar, ou, como elas diriam, "aprofundar" o sentido da palavra cristão, ela também vai rapidamente se tornar inútil. Em primeiro lugar, os próprios cristãos não poderão mais aplicá-la a ninguém. Não cabe a nós dizer quem, no sentido mais profundo, está próximo do espírito de Cristo, pois não temos o dom de sondar os corações humanos. Não nos cabe julgar. Aliás, nos é proibido julgar. Para nós, seria uma maldosa arrogância dizer que um homem é ou não é cristão nesse sentido refinado. E, obviamente, uma palavra que não podemos aplicar não é de grande utilidade. Já os descrentes ficarão exultantes, sem dúvida, de a utilizar neste sentido refinado. Em suas bocas, ela se tornará simplesmente um elogio. Quando chamarem alguém de cristão, estarão somente dizendo que o julgam uma boa pessoa. Este uso da palavra, porém, não enriquecerá a lín¬ua, pois já dispomos do adjetivo bom. Entrementes, a palavra cristão terá sido destituída da verdadeira utilidade que poderia ter.

Devemos, portanto, ater-nos ao sentido original, e óbvio, da palavra. O nome cristão foi empregado pela primeira vez em Antioquia (At 11:26) para designar "os discípulos", os que acataram os ensinamentos dos apóstolos. Não há, pois, por que restringir a palavra somente àqueles que tiraram o máximo proveito da instrução apostólica, nem estendê-la aos que, seguindo o sentido refinado, espiritual e interiorizado, estão "muito mais próximos do espírito de Cristo" do que o menos satisfatório dos discípulos. A questão não é teológica nem moral, mas somente de usar as palavras de forma que todos possamos entender o que elas significam. Quando um sujeito segue uma vida indigna da doutrina cristã que professa, é muito mais claro dizer que se trata de um mau cristão do que chamá-lo de não-cristão.

Espero que nenhum leitor tome o cristianismo "puro e simples" aqui exposto como uma alternativa à profissão de fé das diversas comunhões cristãs existentes — como se um homem pudesse adotá-lo em vez do Congregaciona-lismo, da Igreja Ortodoxa Grega ou de qualquer outra igreja. O cristianismo "puro e simples" é como um saguão de entrada que se comunica com as diversas peças da casa. Se eu conseguir trazer alguém até esse saguão, terei cumprido o objetivo a que me propus. Porém, é nos cômodos da casa, e não no saguão, que estão a lareira e as cadeiras e são servidas as refeições. O saguão é uma sala de espera, um lugar a partir do qual se podem abrir as várias portas, e não um lugar de moradia. Para morar, segundo creio, o pior dos cómodos (seja lá qual for) será preferível. E verdade que certas pessoas vão descobrir que terão de esperar no saguão por um tempo considerável, enquanto outras saberão com certeza e imediatamente em qual das portas deverão bater. Eu não conheço o porquê dessa diferença, mas tenho a convicção de que Deus não deixa ninguém à espera a não ser que a julgue benéfica. Quando você chegar ao seu cómodo, descobrirá que a longa espera lhe fez um bem que não seria alcançável por outros meios. Porém, sua estada no saguão deve ser encarada como uma espera, e não como um acampamento. Você deve perseverar na oração, implorando pela luz; e, claro, mesmo que ainda no saguão, deve começar a tentar obedecer às regras comuns à casa inteira. Acima de tudo, deve se perguntar continuamente qual das portas é a verdadeira; não qual delas tem a pintura mais bonita ou possui os melhores ornamentos. Em linguagem clara, a pergunta a ser feita não deve ser: "Será que eu gosto desses rituais?", mas sim: "Serão essas doutrinas verdadeiras? O sagrado mora aqui? Será que minha relutância em bater nesta porta não se deve ao orgulho, ou a um gosto pessoal, ou ao capricho de não simpatizar com o seu guardião?"

Quando você chegar ao seu cómodo, seja bondoso com as pessoas que escolheram outras portas, bem como, com as que ainda estão no saguão. Se elas estão no erro, precisam ainda mais de suas preces; e, se forem suas inimigas, você, como cristão, tem o dever de orar por elas. Esta é uma das regras comuns à casa inteira."

C.S Lewis - Cristianismo puro e simples

Um comentário:

  1. Olá, Paulinha!

    Seu blog é muito bom, adorei!

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